Amanhã tem a tradicional Festa do Boi Falô em Barão Geraldo
A lenda do Boi Falô, como já é tradição há 37anos, terá sua comemoração amanhã (18), das 10h às 16h, na Rua Manoel Antunes Novo, 822, em Barão Geraldo. A festa contará com uma programação cultural animada e a já consagrada macarronada, marca registrada da celebração. A entrada é gratuita e aberta a toda a comunidade. O evento conta com o apoio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Campinas.
Durante o evento, os visitantes poderão acompanhar apresentações musicais e oficinas culturais. O grupo Caixeirosas realizará apresentação das 11h às 12h. Além disso, às 12h, os participantes receberão bênção do padre.
As crianças também fazem parte da programação: das 11h às 14h, acontece oficina de artesanato com Emília Reily de Souza. Graduada em Desenho de Moda pela Faculdade Santa Marcelina, Emília trabalha com figurino de ópera desde 2005, passando pelo Festival Amazonas de Ópera, Theatro Municipal de São Paulo e Teatro São Pedro. Nos últimos cinco anos, atuou como educadora de figurino no projeto Fábricas de Cultura, unidade Parque Belém.
Criada em 1988 para marcar o centenário da Abolição da Escravidão no Brasil, a Festa do Boi Falô tem como base uma lenda que atravessa gerações e guarda significados profundos sobre fé, resistência e ancestralidade. De acordo com a versão mais popular da história, um escravizado chamado Toninho foi obrigado a trabalhar em uma Sexta-feira Santa. Ao chegar ao pasto, um dos bois teria olhado para ele e teria dito: “Toninho, hoje não é dia de trabalhar; hoje é dia de se guardar”. Toninho correu de volta para a fazenda gritando “o boi falô, o boi falô!” e contou o ocorrido.
Impressionado, até o capataz, descrente, teria se tornado rezador. Toninho, por sua vez, ganhou a confiança do Barão Geraldo de Rezende e passou a trabalhar dentro da casa-grande, sendo posteriormente enterrado ao lado do Barão. Seu túmulo é até hoje um dos mais visitados da cidade no Dia de Finados.
Como toda lenda popular, a história do Boi Falô possui diversas versões. Membros da Comissão Pró-Memória de Barão Geraldo relatam uma narrativa sem a figura de Toninho ou do Barão Geraldo de Rezende. Segundo essa versão, o episódio teria ocorrido no Capão do Boi, um pequeno bosque que existia na entrada do distrito e foi destruído por volta de 1974 para a construção da atual Avenida Romeu Tórtima.
Nessa narrativa, um capataz teria mandado um jovem — descrito por uns como escravizado, por outros como empregado — buscar os bois no bosque. Ao tentar conduzir os animais com uma vara, um dos bois teria dito: “Hoje não é dia de trabalhar! Hoje é dia de Nosso Sinhô Jesus Cristo!”. O capataz, incrédulo, teria ido até o local e presenciado o boi repetir a fala. Chocados, os dois retornaram e nada mais foi feito naquele dia.
Independentemente da versão contada, a Festa do Boi Falô resgata elementos importantes da cultura oral, da religiosidade popular e da memória afro-brasileira. É um momento de celebração, mas também de reflexão sobre a resistência e a sabedoria dos povos que ajudaram a construir a identidade cultural de Campinas.
A festa integra o calendário cultural da cidade e mantém viva a tradição por meio de histórias, comidas típicas e da presença ativa da comunidade local. É uma oportunidade imperdível para conhecer mais sobre o folclore da região, saborear uma boa macarronada e se conectar com um passado que ainda ecoa na memória coletiva.
“O povo vem pra festejar, compartilhar, celebrar! Todos juntos por um momento. Acreditamos que a festa, o boi, a lenda, enfim, somos todos parte de um território livre, coletivo e festeiro. Em tempos digitais e de uma sociedade acelerada, vamos manter e preservar uma lenda que nos lembra: ‘hoje não é dia de trabalhar’. Este tempo-memória consegue reunir muitas pessoas na construção dessa festa”, conta o historiador Warney Smith Silva.
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