Chico Lelis

Coluna Histórias & Estórias – Por Chico Lelis

Luzes: na terra, mar e ar

O primeiro farol do carro surgiu em 1899, onde seu criador (não existe registro do seu nome) se inspirou em candelabros à vela. Entre os primeiros modelos a fazer uso desse equipamento foi o Peugeot Tipo 3, modelo do primeiro carro importado para o Brasil, por Alberto Santos Dumont, o Pai da Avião. O elétrico veio em 1912; com dois filamentos e defletor chegaram em 1930. Cinco anos depois, os primeiros modelos de carros tiveram os faróis embutidos em sua carroceria. E os faróis foram evoluindo até chegarem aos modelos de hoje, que utilizam LED. E, pela legislação, a partir desse anos de 2014, todos os veículos, sejam híbridos, elétricos ou a combustão são obrigados a sair de fábrica com a luz diurna obrigatória, conhecida como DRL.

Mas falar sobre faróis para os automóveis é algo que não causa muita curiosidade, pois todo mundo, seja motorista ou pedestre, conhece bem esta peça indispensável que, muita vezes é mal usada, na guerra dos faróis, por exemplo, em estradas de pistas simples, da falta do uso deles nas vias urbanas. E, vou incluir as setas direcionais, que não são muito usadas pelo motorista brasileiro.

E no mar?

Bem, no mar a situação é outra. Os faróis não são peças principais na sinalização das viagens. O mais importante é a cor das luzes colocadas à boreste (direita da embarcação), a verde, e a bombordo (esquerda), vermelha. Elas indicam quando algum barco se aproxima ou se afasta. Quando se avista uma luz invertida, é porque há uma embarcação vinco na sua direção. Nesse caso é passar com a luz verde cruzar com a luz verde do outro barco.

Essa é a regra: a embarcação que estiver  navegando pelo boreste (direita) e for avistado, olhando para a direita,  uma outra com a luz de bordo vermelha, esta tem preferência. As únicas exceções ficam para barcos a vela e os de pesca arrastando redes têm sempre preferência, independente do bordo em que estejam.

Agora, imaginem essas regras nos trânsito das nossas cidades e estradas. O nosso motorista não obedece a distância mínima e, quem obedece, corre o risco de ter o espaço entre seu carro e o da frente, por um apressadinho que não obedece esta “mandamento”. E na cidade, quem vem da direita, tem preferência no cruzamento, mas quem respeita a regra? Você obedece ou conhece quem?

No ar
Como informa a Associação Brasileira das Empresas Aéreas, as luzes externas  servem, especialmente à noite, para auxiliar o piloto nas ações de decolagem e aterrissagem de um avião comercial.

Luzes de ponta de asa
São luzes instaladas na ponta de cada asa, mostrando o sentido em que segue o avião. “Essa sinalização é padronizada na avião comercial no mundo todo. A luz esquerda é vermelha e a direita é verde. Com isso o controlador de voo consegue ver o sentido do avião, diz o consultor técnico da ABEAR, Raul Souza..

Beacon
Não confunda com bacon, apesar da sua cor vermelha. Ela situada embaixo e em cima do avião, no meio do avião, para mostrar que os motores estão ligados e só apagam quando eles são deligados. Serve também como sistema anti-colisão.

Luz traseira
Ela é branca sinalizando a cauda do avião e serve para calcular o tamanho do mesmo, medindo-se a distância entre ela o beacon, que fica no meio.

Luzes de pouso
São localizadas no trem de pouso  ou nas asas. Iluminam a pista e auxiliam o piloto na decolagem e na aterrissagem. Podem ser brancas ou amarelas..

Luzes de motores
Os motores têm uma luz só para eles, mas apenas usadas em caso de acidentes, como colisão com pássaros. Estão nas partes laterais da fuselagem. São brancas ou amarelas.

Strobe
Essas são conhecidas de qualquer um que, à noite, olhando para um avião passando, logo as identificas. São brancas que piscam, com os antigos flashes das máquinas fotográficas (alguém ainda lembra delas?) e podem ser vistas a quilômetros de distância. Estão na frente do avião, mas podem estar nas asas e na sua traseira.

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Histórias & Estórias – Por Chico Lelis

Banco de alimentos

 

Um dia, a presidente da Editora FC (publicava revistas AutoEsporte, Forma Física, Casa & Jardim, Quarto de Criança e Construção & Reforma), decidiu vender a editora e partir para aquilo que ela classifica como um ato de civilidade.

Luciana Quintão não teve muito apoio no começo do seu Banco de Alimentos. As pessoas diziam que ela iria se arrepender. Não desistiu, pegou a Kombi e foi atrás de seu sonho: recolher o alimento  que sobravam nas  empresas que preparavam alimentos  e dos supermercados (in natura) e levar até a mesa de entidades que atendiam a pessoas necessitadas.

Essa história começou há 26 anos e, até hoje, o Banco de Alimentos  já distribuiu  mais de 2 milhões de  toneladas de alimentos para 62 entidades espalhadas pela Grande São Paulo, não mais usando a velha Kombi, mas dois caminhões baús VUC. Aqui um capítulo à parte: os dois caminhões são novos, porque os anteriores foram roubados no final do ano passado. Os veículos percorrem 3.000 km por mês (cerca de 600 mil km, desde o início dos registros em 2008), diariamente das 8 às 17 horas, fazendo entrega de alimentos, nas entidades  necessitadas em todas as regiões da cidade de São Paulo.

Carlos Alberto Pardian é o mais antigo motorista do Banco de Alimentos, com 21 anos “de casa”. Ele conta que o ambiente de trabalho é muito bom, tanto nos locais de coleta, quanto e, principalmente, naqueles os alimentos são deixados. Os veículos são refrigerados, o que mantém a qualidade dos alimentos, mesmo dos congelados. No trânsito, como conta ele, ao identificarem os caminhões (difícil não acontecer, basta ver pelas fotos), outros motoristas e até pedestres acenam, fazem sinal de positivo, como forma de reconhecer o trabalho do Banco de Alimentos.

– É muito gratificante, diz ele, contando que até sua foto faz parte da decoração externa do VUC.

Civilidade 

Conheço Luciana Quintão desde o tempo em que ela dirigia a FC Editora, onde Fernando Calmon (no setor automobilístico, como eu, há mais de 50 anos) editou durante vários anos a revista AutoEsporte, por onde passaram, entre muitos outros, Caio Moraes e Marcos Zamponi.

A empresária ressalta que para ela, o trabalho que realiza na ONG representa civilidade. Fala do início difícil com sua Kombi, substituída por dois caminhões que, com a Lei que proíbe a entrada de caminhões na cidade, foram substituídos por vans e, finalmente os VUCs que operam hoje.

Luciana também lembra que, mesmo com milhares de toneladas de alimentos distribuídas até hoje (70 delas foram para o Rio Grande Sul recentemente), o Banco de Alimentos enfrenta dificuldades e precisa sempre da cooperação da comunidade.

E não apenas para cooperar com a doação de alimentos, mas também com a cessão, por doação ou comodato, de veículos pequenos que possam entrar em vias onde os VUCs  não entram.

Para quem quiser ajudar ou receber doações, o caminho, segundo Luciana, é entrar no site da ONG que é bancodealimentos.org.br  

Nele será possível conhecer toda a história e as áreas de atuação do banco de Alimentos e ajudar da melhor forma que colaborar ou indicar entidades que necessitem de ajuda. É preciso salientar, acrescenta Luciana, que cada brasileiro desperdiça 60 kg de alimentos a cada ano, segundo dados do relatório da FAO e PWNSSAN, de 2021. Este documento também revela que 125,2 milhões de brasileiros estão em situação de insegurança alimentar, enquanto 12,5 milhões de toneladas de alimentos são desperdiçados anualmente no País.

O logotipo do banco é uma melancia cortada. A explicação da Luciana para essa escolha: “é que ela simboliza o sorriso”.

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A ideia dessa coluna começou quando ouvi duas histórias de compras de carros usados. Do sobrinho de um amigo e a neta de outro. Compraram carros usados sem verificar as condições dos mesmos. Só me procuraram depois que os problemas começaram a aparecer, como descobrir que um dos modelos era carro de leilão e o outro tinha sido envolvido em um acidente.

Expliquei que eu trabalhara em uma fábrica de automóveis e estava no ramo desde 1970, mas que isso não me qualificava para saber se um carro está em boas condições ou não. Por isso, fui buscar informações com o  Marcos Camargo, que coordena uma feira de automóveis, todo domingo, no Expo Center Norte e no Shopping ABC (www.autoshow.com.br).

Ele disse o que eu já dissera aos dois jovens: não se compra um carro sem antes verificar suas reais condições, começando por pedir o laudo cautelar ou levar o carro para fazer laudo. Este documento revela o histórico do carro e uma análise completa da estrutura do veículo. Ele tem validade jurídica e é o mesmo em qualquer local credenciado pelo Detran.

Mas, além disso, vale uma verificação por fora do carro, observando a uniformidade da pintura, nas cores e no alinhamento das portas, porta malas e capô. Marcos adverte para se dar atenção aos sinais de desgaste: carro com baixa quilometragem não pode ter volante, pomo do câmbio e pedais desgastados ou novos demais. Desgaste e quilometragem baixa são incompatíveis.

Também é preciso, acrescenta, desconfiar de anúncios que mostram “carro revisado”. Só que o anunciante não tem uma um único comprovante como as notas fiscais de revisão. Também é preciso pedir um histórico de manutenção, manual e chave reserva. 

Dentro do carro

Por dentro, aconselha Marcos, olhe com atenção os tecidos do bancos. Se eles estão muito desgastados e a quilometragem anunciada, é baixa, cuidado. Ficar de olho nos sinais de carpete removido e recolocado, que pode significar possível passagem por enchente.

Os vidros também devem ser observados com atenção. Eles devem ter a inscrição do número do chassi e logotipo do fabricante. Vidros trocados não tem gravação do chassi e nem o logotipo. Isso significa que em algum momento esse vidro foi trocado provavelmente após uma colisão.

É preciso observar também a fumaça aparente ao ligar ou dificuldade para ligar. Sempre dar a partida com o carro frio e verificar nível de óleo antes de dar a partida e ver se está no nível. Essa verificação só funciona com o motor frio.

Não deixar de testar todos os itens do carro com calma: som, ar condicionado, direção assistida, vidros elétricos, painel com todos os itens funcionando e reparar, com muito cuidado se alguma das luzes de alerta de mau funcionamento estão acesas.

O teste tem que ser bem feito. Dê uma volta no carro, não no trajeto determinado indicado pela loja, concessionária ou vendedor. Vale a pena colocar um pouco de combustível e andar em ruas, avenidas, paralelepípedo e até mesmo trecho de rodovia. Depois, estacionar em local silencioso e analisar o veículo com calma.

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Carros e eu. Um começo diferente

 Minha carreira, extra oficial, como jornalista teve início na Revista da Orla, em 1968 e oficialmente em e centenária “A Tribuna”, de Santos,  no ano seguinte, na Sucursal do jornal, em São Vicente, a Célula Mater da Nacionalidade.

Mas o meu primeiro contato profissional com o automóvel, em 1973, não se deu da maneira normal, ou seja, ajustando o banco, espelhos, colocando o cinto de segurança, à época ainda só abdominal. Não, foi por intermédio de um texto via telex, enviado por uma fabricante, como título: GM trás caixa de câmbio para o Chevette de avião.

Acontece que o fabricante local teve algum problema e não estava conseguindo a demanda necessária para a fábrica produzir o carro que fora lançado meses antes. Como eu era o repórter da área de Economia, tendo como mestre o meu querido amigo José Rodrigues. que infelizmente já nos deixou. (Tem outro jornalista, Zé Rodrigues, querido amigo também, com quem, felizmente, ainda podemos brindar um bom vinho). E coloquei como título da pequena nota: “O Boeing da GM”. Pronto, entrei para o setor.

Minhas memórias levam-me logo mais adiante, deste feita presencialmente (uma prática pouco usada atualmente. Não? (Parece que hoje a presença humana incomoda quem promove eventos e a maioria prefere fazer lançamento pela Internet. Pena!). Fomos convidados para o lançamento da “pedra fundamental” da primeira fábrica da Fiat, fora da Itália.

Uma emoção forte. Iria para um evento que, pela minha primeira vez, exigia terno e gravata. E não era para menos, lá estariam, em Betim (MG), além do governador do estado, Rondon Pacheco, o il Gran Capo da Fiat, Giovanni Agnelli. Pela segunda vez, não tive que apertar o cinto (salvo no avião) ou ajustar espelhos e bancos.

Daí, veio o convite do meu amada o amigo Sérgio Aparecido (que também já nos deixou e que era o melhor cover do Elvis, a quem adorava, que eu já vi/ouvi) para substituí-lo na Assessoria de Imprensa da Ford, onde tive como chefe o mestre Luís Carlos Secco, a quem devo os melhores ensinamentos na área de assessoria. Eu já havia herdado do Sérginho sua máquina Remington no jornal e segui seu rastro no setor automobilístico. Da Ford ele foi para a Scania.

Ali sim, tive meus primeiros contatos com o automóvel, regulando cinto, bancos, espelhos da Belina II, da qual participei do lançamento; Maverick 4 portas e motor 6 cilindros (do Jeep, que equipou, entre outros, da Rural) de incalculável fracasso, ofuscado pelo sucesso do “Maverickão” V8.

Da Ford fui para a Goodyear, levado pelo meu querido amigo (que, infelizmente, também não está mais entre nós) Mathias Petrich, que saíra da Ford. Fiquei lá um ano e fui para o Globo (Sucursal São Paulo). Aí, sim, passei a “cobrir” a indústria automobilística e auxiliar o Fernando Mariano a fazer o caderno de veículos do jornal carioca.

Aí foi um festival de ajuste de cintos, espelhos e bancos. Dezenas de carros novos passaram pelas minhas mãos e conheceram o peso (sempre com responsabilidade, do meu pé direito) como o Gol, campeão de vendas no Brasil, que nenhum outro carro superou.

Dali, de O Globo, a convite do querido André Beer (outro que já se foi) fui para a GM. De 1983 a 2001 sendo um dos responsáveis, na área de Imprensa, por todos os lançamentos da fábrica. Monza 4 portas, Kadett, Vectra, Corsa, Astra, Zafira, Omega (não nesta ordem) e suas diversas versões foram todos eles. E nesses sim, andei muito e conheci a fundo cada um deles. Consegui que a Engenharia permitisse que nós, de Imprensa da fábrica, participássemos das viagens de avaliação que eram feitas pelo Brasil antecedendo os lançamentos. Na segunda viagem, até o pessoal da agência de propaganda (MacCann Erickson), além do Marketing, foi. A justificativa: era mais fácil, para eles e para nós, escrever e fazer a campanha, conhecendo melhor cada carro.

De todos eles, o de maior sucesso foi o Corsa, que obrigou o vice-presidente, André Beer,  ir para a TV, durante o Jornal Nacional (TV Globo) pedir para que as pessoas parassem de procurar pelo carro, pagando ágio para conseguir compra um, pois a GM estava aumentando sua produção para atender a demanda. Houve um erro nos estudos da fábrica que não esperava pela enorme procura do carro.

Lembro que em um daqueles anos, A GM disputava com a Volkswagen, e A Fiat, qual seria o fabricante a lançar o primeiro modelo com injeção eletrônica, uma cobrança do mercado para melhorar performance e diminuição da poluição causada pelos veículos. Ganhou a Fiat, com o Uno Mille. Os italianos sempre foram mais rápidos no quesito decisão, deixando os norte-americanos e alemães para trás.

Depois de 18 anos de GM, saí porque sentia mudanças no setor, onde o ser humano não mais seria tão necessário no relacionamento fabricante/Imprensa, como as coisas estão hoje, com um distanciamento inconcebível para quem, como eu, preza pelo relacionamento humano, como me ensinaram minha vó Eva e a minha mãe Olinda, amadas.

Fiz alguns frilas, inclusive como consultor da Portugal Telecom, onde realizei alguns trabalhos, com a supervisão, do querido amigo e compadre, Paulo Figueiredo (que encontro com regularidade) da agência A4.

Em 2004, a convite de outro querido amigo, Moisés Rabinovici, fui editar o DCarro, caderno de veículos do Diário do Comércio, da Associação Comercial de São Paulo, dirigida pelo estimado Guilherme Afif Domingos, hoje braço direito do governador de SP, Tarcísio de Freitas.

No DCarro continuei ajustando cintos, espelhos e bancos, com a ajuda da Alzira Rodrigues (ex O Globo e sucursal do Estadão no ABC) e do Anderson Cavalcante (recém-formado em Jornalismo e apresentado pela Márcia Rodrigues, colega na redação do Diário). Foram quatro anos de profissionalismo e de uma amizade que rende até hoje.

E como editor do DCarro pude participar de grandes lançamentos e destaco aqui o do Cinqüecento (Fiat 500), uma paixão de carro. O lançamento foi em Turim, terra natal da Fiat. Dois acontecimentos, além da festa de apresentação do carro, em pleno rio Pó, foi maravilhosa! A Fiat convidou todos os proprietários do modelo antigo do 500 para irem à festa em Turim. Milhares atenderam ao pedido, invadindo Turim, que obrigou a prefeitura liberar o estacionamento nas calçadas da cidade.

O outro acontecimento, que já contei em minhas colunas, foi que, no teste drive, pelas ruas da terra da Fiat, eu e meu amado amigo Antônio Fraga nos “perdemos”, claro que propositalmente e ignorando o mapa, rodamos pelas estrada ao redor da Turim e só chegamos de volta ao local de partida, quando o pessoal da organização já desmontava tudo e pensava em pedir ajuda da polícia para nos encontrar.

Foram anos daquilo que, estou certo , realizei um bom trabalho e que, principalmente, fiz muitos amigos e amigas, com quem faço questão de manter contato sempre, lamentando a ausência dos muitos que se foram. Por que acho que o que vale nesta nossa vida é a amizade, como me ensinaram minha avó e minha mãe.

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Por que tanto acidente com ônibus?

Quando em “A Tribuna”, de Santos, onde comecei minha carreira em 1969, fiz uma reportagem sob o título “Câncer, uma questão de diagnóstico precoce”, com a colaboração do Oncologista Joaquim Pinho, que explicava a necessidade de se descobrir o quanto antes a doença, para que ela não conseguisse avançar.

Foi pensando nisso que, diante dos inúmeros acidentes de ônibus que ocorreram nos últimos dias, que pensei qual seria o diagnóstico precoce para se curar este mal que assola as nossas estradas.

Nestes casos, ao diagnóstico precoce poderia ser dado pelas autoridades, nos casos as policiais rodoviárias de todo o País, mediante rigor na fiscalização, evitando, por exemplo, o maior acidente já registrado no Brasil, quando perderam a vida 68 pessoas. Foi em julho de 1987, na BR 040 (que liga Belo Horizonte ao Rio de Janeiro), próximo a Belo Vale, em Minas Gerais.


Um ônibus urbano, que não pode ser usado em rodovia, chocou-se contra outro, este rodoviário. Além de não poder dirigir em rodovias, o motorista estava embriagado. Se houvesse uma fiscalização eficiente, o urbano teria sido parado e pessoas não teriam perdido a vida.

Nem sempre a embriaguez do motorista é a responsável pelos acidentes fatais, mas também as péssimas condições dos ônibus, com seus pneus “carecas” ou recauchutagem de 5ª categoria; freios deficientes, motores que falham. Sobre recauchutagem é preciso dizer que, quando feita dentro de rígidas normas técnicas, é utilizada até mesmo para aviões (é possível que em alguns casos, até 3 vezes ou mais).

E, por que acontecem tantos acidentes envolvendo ônibus no Brasil? Segundo o Atlas de Acidentalidade do Transporte Brasileiro, em 2021 a desobediência à sinalização e o motorista dormindo ao volante foram as causas mais frequentes. Em seguida, velocidade acima da permitida, ultrapassagem indevida, ingestão de álcool e falta de atenção.

Ainda falando de número, eles impressionam. Segundo a Confederação Nacional do Transporte (CNT), em 2022 aconteceram 64.446 acidentes no Brasil, sendo que 52.948 pessoas foram vítimas de acidentes envolvendo ônibus. É preciso ressaltar que estes números se referem apenas às rodovias federais.

Em 2023 foram 142 óbitos envolvidos com sinistros em micro-ônibus, 603 óbitos envolvidos com sinistros em ônibus, com o total de 745 vítimas fatais.

Palavra do especialista

Para o especialista no assunto segurança, Thyrso Guilarducci,  “o  que se observa no cenário brasileiro no espectro de trânsito é uma fragilidade imensa que beira a procrastinação. Não são apenas os ônibus que muitos deles estão em precárias condições. Caminhões em ruínas, verdadeiras sucatas sobre rodas, trafegando impunemente pelas cidades e rodovias. Se um veículo desses atingir um carro particular, além dos riscos de vítimas pessoais, há a responsabilidade civil: certamente o proprietário não possui recursos para indenizar seus atos”.

Por isso, ele recomenda que o ideal é ficar longe deles.

O especialista destaca que “a nossa legislação é suficiente, porém a efetiva fiscalização é como você comentou, Insuficiente mesmo. (Referindo-se à conversa que tivemos)

“Eu – continua ele com sua análise – viajei muito nos Estados Unidos e vejo como são rigorosas as inspeções nas rodovias. Os policiais usam macacões de mecânicos e entram sob as carretas examinando freios, rodas, pneus, mangueiras, parte elétrica, vazamentos, suspensão e direção com elevado grau de rigor. Qualquer anormalidade, além das multas, o veículo só sai do local após reparar as falhas ou guinchado.

Aqui ele menciona um dos maiores problemas. No Brasil ainda temos os fantasmas de ônibus clandestinos que fazem rotas de São Paulo para Teresina no PI (por exemplo) levando passageiros, que encontram nesses valores menores uma forma de poder viajar. É uma situação complicada, pois são coletivos inseguros de modo amplo. Revisões que faltam e muitos deles são os que causam tantos acidentes.

E concluiu “com fiscalização intensa é que isso pode ter um fim”.

Você deve estar pensando, mas por que a coluna só fala em números da Polícia Rodoviária Federal? Porque, em mesmo o especialista tem acesso a eles. Parece haver uma nuvem que encobre os acidentes ocorridos nas estaduais em todo o Brasil.

 

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Lanchas elétricas á vista!

São 17 lanchas, que hoje usam motor diesel. Com potência entre, sendo cinco delas movidas a propulsor eletrônico,  variando entre 405 cv e 250 cv e que geram economia de 10% em relação aos normais. São usadas pela Praticagem de São Paulo, para guiar os navios nas entradas e saídas dos portos de Santos, o maior da América Latina e do de São Sebastião, no litoral norte do estado.

Para melhorar ainda mais o ganho de economia, a Praticagem está desenvolvendo com a empresa WEG, uma nova lancha com motor elétrico, que deverá estar pronta no primeiro semestre de 2025. O projeto prevê que ela tenha 90 minutos de autonomia para o mesmo tempo de recarga (plug in), que acontecerá na sede da Praticagem, onde hoje já usa energia solar, para captação de água.

Nelas, além  do piloto e marinheiro, seguem dois práticos e um deles, após a aventura de subir a bordo do navio (assista ao vídeo no https://www.youtube.com/shorts/S8-hPdlcVNk?feature=share e vai entender o uso do “aventura”), passa as instruções para o timoneiro para que tudo corra bem, quer seja na entrada ou saída do porto, que no de Santos tem um canal do 24,6 km de extensão, com 220 metros de largura e 15 metros de profundidade. Em São Sebastião existem duas medidas na largura dos 22,8 km de extensão, 550 m e 300 metros, a uma profundidade de 25 metros.

Como começou

A Praticagem começou no Brasil em 1808 quando Don João VI assinou a criação do Regimento de Práticos da Barra do Rio de Janeiro. Mas no mundo a profissão existe há mais de 4 mil anos, tendo um código internacional, o Hamurabi, regendo a conduta deste profissional. Em Santos, a Praticagem completou 90 anos de existência. O porto tem 132 anos.

Uma história interessante, ocorrida em 1985, conta sobre a importância do prático na segurança do porto, das cargas (98% do comércio interno e internacional no Brasil é transportado por navios) conta que o prático Nelcy Campos arriscou sua vida, em Pernambuco, quando guiou um  petroleiro em chamas, desde o Parque de Tancagem,  até o alto mar, evitando assim que fosse destruído o por de Recife e de boa tarde da cidade.

O navio maior que quatro Maracanãs

Foi no dia 1 º de fevereiro que a Praticagem recebeu o maior dos navios que até então haviam atracado no porto de Santos. Foi o Natasha XIII, da MSC, com seus 366 metros de comprimento e 48 de largura (equivalente a 4 quarteirões), transportando 14,4 mil TEU’S (contêiner padrão de 20 pés) com peso total de 141.649 toneladas. Para tanto, os estudos foram iniciados em 2016 visando capacidade de calado do canal, do terminal da Alemoa (bairro de Santos)  e outros detalhes, envolvendo Marinha do Brasil, USP, Praticagem e muitos outros participantes para a operação que interrompeu a travessia de balsa entre Santos e Guarujá, por cerca de 2 horas.

Na entrada (assista ao vídeo no https://www.youtube.com/watch?v=h1NhWXWY53o#:~:text=O%20navio%20porta%2Dcontainer%3A%20MSC,Santos%20(superando%20o%20CMA%20CGM) e na saída.

 

 

 

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Caio, o pai do Salão que volta ao Anhembi

 

Foi em 1960 que surgiu o primeiro Salão do Automóvel, com 11 expositores, que mostraram entre outros, o Aero Willys, o Renault Dauphine, DKW e o Saci, protótipo esportivo da VW. Nos anos seguintes (1961/1962), mais dois salões no Pavilhão de Exposições do Parque Ibirapuera. Daí em diante passou ser bienal, até que, em 1968 deixou o Ibirapuera e foi para o Anhembi.

Em 2016, com o Anhembi “caindo aos pedaços”, o Salão migrou para o São Paulo Expo, às margens da Rodovia dos Imigrantes (ligação entre São Paulo e o Litoral Sul do estado). Entre os confortos do novo local, ar condicionado, amplo estacionamento, com seu amplo preço. Uma observação: as marcas chinesas não conseguiram participar.

E agora, a razão desta homenagem ao Caio de Alcantara Machado: o Salão do Automóvel voltará ao Anhembi em abril do próximo ano, desta vez com a presença de todas as chinesas, que exportam seus veículos para cá, e todas as marcas com fábricas instaladas no Brasil, incluindo caminhões e máquinas agrícolas, segundo fontes do setor. Há quem diga que inclusive o setor náutico também fará parte deste salão que será abrigado no novo Anhembi, com capacidade muito maior que o anterior e agora denominado Distrito Anhembi. São 400 mil m² incluindo o Sambódromo, que continuará existindo e também será usado para o salão.

E por que o Caio recebe esta minha homenagem? Porque, além, de criar o salão. Caio também criou o Anhembi, que em abril receberá seu “filho pródigo” de volta, com maior força de atração que o modelo anterior e voltado para negócios.

– Será um evento de negócios, onde o visitante poderá comprar o modelo que desejar, “fazendo negócio” ali mesmo. Garante fonte do setor. Ou seja, vai valer até PIX no novo Salão do Automóvel.

Em razão deste novo perfil, não caberão neste salão, os faraônicos estandes que sempre marcaram presença em edições anteriores, com seus dois pisos, mas sim espaços para atendimento aos eventuais visitantes compradores.

Mas, é claro, o Salão não perderá sua principal característica estabelecida por Caio: exibir o melhor do setor automobilístico, com suas máquinas elétricas, híbridas, autônomas, movidas a hidrogênio e, até lá quem sabe com alguma surpreendente novidade.

Ousadia e persistência

Além de criar o Salão, Caio também construiu o Anhembi, durante anos a sede de muitas feiras que se realizavam em São Paulo, como a Fenit (a primeira de todas as feiras) e UD que eram visitadas por milhares de visitantes vindos de todas as partes do País.

Caio de Alcântara Machado Júnior destaca o que seu pai tinha de mais forte: ousadia e persistência. E conta o que aconteceu com o salão de 1986 quando, inconformadas com ações do governo federal, as fábricas instaladas no Brasil resolveram não participar naquele ano. Caio foi à Brasília e conseguiu que o ministro da Fazenda da época, Dilson Funaro, autorizasse a importação temporária, sem cobrança de impostos.

E Caio foi aos Estados Unidos e comprou 57 modelos, de várias marcas e fez um dos mais concorridos salões de todos os tempos. Eram todos carros que não existiam no Brasil e isso causou grande curiosidade ao público. Naquele salão a Rastro exibiu um carro-banheira, como conta João Basílio amigo de Caio, que esteve ao seu lado em várias ocasiões.

Uma outra ousadia de Caio: ele costumava sobrevoar São Paulo nos finais de semana para construir um local para promover suas feiras. E descobriu uma área logo ali, na Marginal Tietê, junto à ponte das Bandeiras.

Foi ao prefeito Prestes Maia que disse ser impossível, pois aquele terreno estava destinado à Santa Casa de São Paulo. Caio, segundo seu filho, saiu do gabinete desanimado. Mas voltou com o argumento de que seria melhor construir ali um local que mostrasse a grandiosidade da cidade.

Venceu e construiu o Anhembi, depois de uma viagem ao Canadá onde teve contato com construções que utilizavam alumínio espacial (Gyrotron), cinco vezes mais barato que o aço, produzido lá pela Alcan. O teto foi montado no solo e elevado por mastros de 25 metros se altura, colocados ao lado das colunas que sustentaram o teto. O projeto de construção teve a responsabilidade do engenheiro Jorge Wilheim.

A obra, conta Caio Júnior foi erguida em 2 anos (1968/70) e inaugurada com o Salão do Automóvel daquele ano.

Ele conta que muitas outras feiras foram organizadas pelo seu pai, como a Feira da Rússia, da Argentina, da Itália, do Japão da e muitas outras, de vários países, todas no Anhembi Alemanha.

Mas Caio não era apenas um criador de feiras. Foi ele, junto com o irmão José, que criou num das principais agências de propaganda deste Brasil: a Almap, que atende a Volkswagen até hoje, como AlmapBBDO.

João Carlos Basílio, reafirma a condição de ousadia e persistência do amigo Caio, com quem “deliciava-se” ficar pelo seu bom humor, gentileza e ousadia.

– Ele não conseguia – conta João – o alvará para inaugurar o Anhembi. Fazia muito tempo que o documento estava na mesa do então prefeito Jânio Quadros e a autorização não era dada. Cansado da demora, um dia o Caio cercou o carro do prefeito às 7 horas da manhã, explicou a ele o que acontecia e saiu deste encontro inusitado com a aprovação de Jânio.

Sua relação com a Imprensa é lembrada com saudades por todos os jornalistas que o conheceram. A feijoada no sábado do salão era uma delícia. Não pelo significado gourmet do prato, mas pela possibilidade de um contato mais próximo com o Caio e sua escudeira, Camilinha Cardos, assessora de Imprensa, figura única no setor, sedutora por suas gentilezas e profissionalismo.

Então, a volta do Salão do Automóvel para o Anhembi, será um prêmio para o empreendedor Caio. O novo palco do salão contará, entre outras coisas,  com auditórios, salas modulares, área de convivência, arena multiuso, passarela cultural, pavilhões de exposição com divisórias acústicas, permitindo até cinco exposições. O investimento foi de R$ 1,5 milhão.

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A moça que entende muito de graxa

Lá se vão alguns anos (não perguntei a idade dela hoje, por cavalheirismo. Ainda sou daquele tempo), mas quando ela criança, que havia apagado umas 4 ou 5 cinco velinhas, quando a moça se apaixonou pela mecânica.

Apesar do seu pai ser mecânico, e o avô ferramenteiro, os dois nunca a incentivaram para que fosse como eles.  Então cresceu acompanhando aquele movimento na oficina na garagem da sua casa. E a graxa foi tomando conta dos seus pensamentos. Sonhava em fazer Mecânica, mas acabou seguindo os conselhos do pai e fez Ciência da Computação. Trabalhou 15 anos na área de tecnologia, mas sempre com pensamento na “graxa”.

Até que um dia, uma amiga falou para sobre um curso grátis de Mecânica. E lá foi ela aprender o ofício que mais queria. A exigência única era um estágio de 6 meses em oficina.

Foi quando, depois do primeiro contato com a “graxa”, decidiu-se pela profissão de mecânica. Fez dois anos no SENAI do Ipiranga entre 2011 e 2013. Thais Roland, a moça a quem me refiro, nunca montou sua própria oficina. Foi enriquecendo seu currículo, fazendo um curso de restauração no Clube de Carros Antigos e foi trabalhar em uma oficina do ramo.

Naquela ocasião criou uma empresa para ensinar às mulheres a cuidar dos seus carros e, quando em uma oficina, não ser respeitada, com aquelas justificativas de o problema era na “rebimboca da parafuseta”.

Criou um workshop que dura 4 horas, com duas variações, uma delas exclusiva para mulheres e outra mista. Neste sábado próximo ((25/05) fará outro em Sorocaba, Como os demais, na sede do SESC local.

– As mulheres são mais atentas e não fazem piadas ou tentam “pegadinhas” como ocorre com alguns homens que, com o passar do tempo, param com suas brincadeiras.

O trabalho consiste em transmitir conhecimentos básicos de um carro, como sistema de combustão, freio, suspensão, arrefecimento, pneus e tudo mais o que envolve um veículo.
Ela leva ensinamentos também pelo Youtube, Instagram e um blog: http://youtube.com/@thaisroland-mec
http://instagram.com/thaisfr
http://www.cmn.blog.br

O amor, um Maverick 75

Quando fazia estágio em uma oficina no ABC, passou de ônibus defronte de uma oficina, avistou sua paixão: um Maverick branco com teto de vinil. Desceu no próximo ponto e foi lá ver quanto queriam no carro, muito maltratado.

– Estava muito ruim, mas me lembrava dos  carrinhos que ganhei uma “cegonha” de presente do meu pai e nele, entre outros carros, tinha um Maverick igualzinho.

Thais conta que o carro estava muito ruim: funilaria horrorosa, motor errado, já que o modelo, um V8 e o propulsor era um 4 cilindros em péssimo estado. Conseguiu comprá-lo e o levou para sua casa, ocupando toda a garagem com o desmonte que fez do modelo. Ela já tem o motor V8 para fazer a troca, mas ainda não foi possível continuar com o restauro.

Foi pensando nessa ação que comprou uma Vemaguet 67, para restaurar, vender e tornar sua paixão em condições de rodar. Mas, o coração agiu novamente e agora a família – ela casou-se com um mecânico, com quem tem dois filhos e que é professor de graduação e pós-graduação no SENAI do Ipiranga, onde se conheceram.

Mas, naquela época eu era casada e ele também. Mas, em 2017, se reencontraram em uma palestra que ela foi fazer do SENAI. E estão junto até hoje.

Filhos de peixes, peixinhos são!

A exemplo da mãe, desde pequeninos gostam de mexer nas ferramentas dos pais. É só ter uma chance que lá estão eles com uma ferramenta nas mãos ou querendo ajudar na troca de um pneu.

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Coluna Histórias & Estórias – Por Chico Lelis

Como foi bom ter estudado francês e latim

Nos meus tempos de ginásio (qual é o nome equivalente hoje?) tive dois professores dos quais me lembrei muito quando fiz duas viagens: uma para a Itália e outra para a França, nos anos 82 e 83, respectivamente. Um deles, Antonio Vietti, que ensinava Latim e a professora Chiquita (querida mestra, cujo nome completo eu nunca soube), que lecionava Francês, o idioma de De Gaulle, no qual me inspirei para criar um mal-estar em um hotel parisiense.

Convidado pela Fiat, quando trabalhava em O Globo (Sucursal de São Paulo), aproveitei a viagem para fazer um prolongamento após visita à fábrica e à pista de testes. De Turim, voei para Roma, a Cidade Aberta (filme de Roberton Rosselini, 1945 com Ana Magnani). Ao descer, uma grata surpresa. Havia “sciopero” (a pronúncia é chópero) e não tive que enfrentar fila na Imigração.

Tomei um táxi para o hotel, bem simples, como pedi na avenida Santa Croce in Gerusalemme, indicado pelo pessoal de Imprensa da Fiat.

Falante, o motorista começou perguntando se eu conhecia essa “bela macchina”, o modelo Fiat, claro. Falou da performance do carro, não lembro o modelo (só sei que era branco), da economia e do conforto, ainda bem porque foram quase duas horas dentro dele. Perguntou de onde eu vinha, o que ia fazer em Roma, blá, blá, blá blá.

– Conheço essa língua, pensei eu.

E, imediatamente, me veio à memória a figura do estimado professor Vietti, um perfeito “oriundi”, sempre elegante, com seus ternos de linho, montado em sua moto preta, uma Norton.

Pedi ao motorista que falasse mais devagar: “per favore, parli lentamente”.E começamos a conversar, com ele contando que havia uma manifestazionne de vecchios (que nunca pararam pois, como aqui, na Itália a aposentadoria é pouca) no caminho e iria atrasar a fazer a corrida mais cara.

Fazer o que, mas comecei a falar com ele, que me perguntou qual dialeto eu falava. Expliquei que estudei Latim na escola e logo entendeu. Afinal, Latim é a língua da qual se originam os idiomas falados aqui e pelo motorista italiano.Chegando ao hotel (em cujos corredores, à noite, se ouviam “ais e uis” em profusão, que me fez crer tratar-se de um “daqueles”) o motorista me disse, para minha alegria e surpresa, que me daria um desconto no valor da corrida, pelo meu “Latim” e em homenagem a Pelé, que ele citou várias vezes no caminho que durou quase uma hora.

Sem perguntar nada, cheguei!

Na manhã seguinte, tomei café em uma cafeteria distante duas quadras do hotel (os “ais e “uis” pararam lá pelas 23 horas e dormi tranquilo). Me surpreendi porque a casa não era aberta como nossos café, bares e restaurantes, mas fechadas com portas de vidro.Tomada o desjejum, um belo caffèlate, pane e burro. (Não preciso traduzir, certo?) resolvi ir ao Coliseu.

Quando ia chegando perto de uma pessoa, resolvi seguir meus instintos e nada perguntar. Primeira à direita, fui reto por três ou quatro quadras, entrei à esquerda, mais um trecho em frente e, ao entrar na primeira à esquerda, eis que surge, majestosamente desgastada pelo tempo, o belo Coliseu. Sentei na calçada e chorei de emoção.Fiz a visita, senti todas as vibrações que os cristãos deixaram para o tempo; ouvi os gritos da multidão condenando à morte os gladiadores vencidos. Emoção pura.

Depois andei à vontade, sem me preocupar com a volta. Na hora do almoço, entrei em um restaurante e pedi um peixe. O garçom, muito solicito me advertiu que o peixe bom só chegaria no dia seguinte: “oggi é gioverdi e il pesce buno arriverà solo domani”. Era quinta-feira e o peixe bem só viria no dia seguinte.E sugeriu uma pasta. Ótima!!!No dia seguinte, usando meu “largo conhecimento” das ruas romanas, decidi ir ao Vaticano, sem nada perguntar. Tal e qual no dia anterior.

E cheguei à maravilhosa praça São Pedro, com poucas pessoas circulando por ali. Visitei a Capela Sistina. É impossível não olhar apenas para a decoração do seu teto, com afrescos de Michelangelo, Rafael, Perugino e Sandro Botticelli. Algo que mais me encantou e emocionou foi visitar os túmulos dos Papas, principalmente quando cheguei até o de Pio XII, o primeiro do qual ouvir falar na minha vida.

Lembro dele e do frei José Mojica, ex ator de Hollywood, que me serviu a hóstia na missa celebrada no aterro do Flamengo, em 1955, quando eu lá tinha meus nove anos. (Só descobri isso quando vi a capa da revista Manchete e lá estava ele, servindo a hóstia para meus colegas do Colégio de Religiosas onde estudava no Rio de Janeiro, no bairro do Grajaú).  Fui no Google para ver se o hino que tinha na memória era mesmo o do Congresso. Não contive a emoção quando consegui acompanhar parte da letra.

No centro “vecchio” de Roma andei por Trastevere, o mais antigo bairro da cidade, com suas viela estreitas, ruas em paralelepípedos (muitas ruas em São Paulo eram assim e, carros V8 e V6, de tração traseira, quando acelerados com força, iam se perder no muro mais próximo) e muitas casas tinham suas paredes sustentadas por tapumes (pelo mesmo era assim quando passei por elas).Depois, peguei o meu primeiro modelo Abarth, um Fiat Ritmo, cuja história já contei aqui (https://autoentusiastas.com.br/2022/12/o-primeiro-abarth-a-gente-nunca-esquece/) e fomos para Veneza, para o Hotel Walter, que reservei pelo telefone, pois já “dominava” o meu Latim/Italiano.

Em Paris, lembrando da professora Chiquita

Ela era muito enérgica, dona Chiquita. O menor deslize e ela mandava esperar lá fora, debaixo da escada. Eu nunca fui castigado. Eu gostava e gosto do Francês (principalmente dos números: 40 é quatre-vingts: 90 é quatr-vingt-dix) apesar do problema que enfrentei, certa vez, no Hotel Mèridien, em Paris. (Abro um parêntese aqui para dizer que os melhores dias de hotel que passei na vida, foi no Mèridien, aquele de Salvador, no Rio Vermelho, dirigido por Fernando Chabert e gerenciado por Ernesto Sousa; e onde meu querido amigo, Paulinho Brandão), promovia a melhor feijoada do mundo, todo carnaval. E eu ia em todas!.

Mas em Paris, nada de cassoulet, a feijoada francesa.Bem, eu nem lembro qual foi a fábrica que me convidou para ir a Paris, sei que não foi nenhuma francesa. Sorry! Mas ela me hospedou em um dos   Mèridien da capital francesa. Bem, eu tinha que ir até a Cité Universitaire (Cidade Universitária) para encontrar amigos, no dia em que nada estava programado pelo meu anfitrião.Do apartamento tentei falar com o telefone da Citè, mas não conseguia linha.

Na terceira vez desci até a Recepção e fiz uma reclamação, usando o Francês que aprendi nas aulas da dona Chiquita.Desci duas vezes mais e nada de solução para o problema com o telefone do meu apartamento. Na quarta descida, cheguei calmamente e, o mesmo recepcionista, sorridente me perguntou o que eu desejava.

Dei um tapa no balcão que estremeceu o hotel e, num tom mais elevado que o meu normal:- Ce n’est pa un hotel sérieux! (*)Todos no saguão, assustados,  olhavam para mim e o funcionário da casa. Ele sabia o que eu queria e estava arrependido pelo seu atendimento falando “Je suis désolé, pardon monsieur. Je sui désolé”.Foi a maior correria. Imediatamente surgiu um funcionário com um telefone nas mãos, pedindo que eu o seguisse.

Como era um português, não precisei gastar o meu Francês com ele. Era apenas um problema com o cabo e, com o telefone trocado, falei com a Citè e fui encontrar os amigos para tomar um delicioso panaché (cerveja com soda-limonada)  às 20;30 horas, na ainda ensolarada Paris naquele verão.

Baseado em De Gaulle

(*) Essa frase, trocando “hotel” por “país”, é atribuída ao estadista francês, Charles De Gaulle, quando de uma de suas visitas ao Brasil. Ele nega, mas eu acho que foi resultado de uma das inaugurações da aciaria da Cosipa (foram duas ou três), quando ele se deparou com um pedido inusitado do fotógrafo de A Tribuna, José Dias Herrera.

Apesar de estar em Santos, ao lado de Cubatão, onde ficava a então Cosipa, hoje Usina Presidente Vargas, do grupo Arcelo Mittar, o “Zezinho”, como era conhecido entre nós, chegou atrasado, depois que De Gaulle já havia apertado o botão acionando os novos fornos da siderúrgica.

Mas “Zezinho” não se abalou. Aproximou-se da autoridade francesa e, apesar de ser muito mais baixo, pelo menos 20 cm que ele, esforçou-se e tocou no seu ombro e disse:

– Monsiuer, s’il vous plait.

Gentil, De Gaulle “reinaugurou” mais uma etapa da aciaria da então Cosipa (Companhia Siderúrgica Paulista).

O líder francês negou ser de sua autoria essa frase, mas, depois desta ação do querido “Zezinho” Dias Herrera, não seria difícil que De Gaulle tenha, pelo menos pensado, em algo assim. Certo?

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Coluna Histórias & Estórias – Por Chico Lelis

Andar em duas rodas é com ele, que rodou
mais de 25.000 km sobre elas

No ano que vem, o recorde da distância de 33 km, completados em duas rodas em um Chevrolet Chevette, pela rodovia dos Bandeirantes (entre Jundiaí e a Capital), vencidos em 30 minutos, vai completar 50 anos, sem ter sido batido até agora.

O piloto Carlos Cunha, autor da façanha que consta no livro de recordes do Guiness, está se preparando, aos 70 anos, para tentar bater este seu próprio recorde. Então ele vai aumentar seus “passeios” em duas rodas para mais de 26 mil km. Como eu andei com ele em duas rodas, alguma vezes, acho que posso me creditar 5 km desta prática que assusta um pouco, confesso.

Com sua fala, que pouco mudou desde aqueles tempos, Cunha conta que tem treinado semanalmente em pistas fechadas, que existem na região de Campinas e, quem sabe, conseguirei bater meu próprio recorde.

Falando em recordes, ele lembra outro que não foi batido, até hoje, tendo acontecido a bordo de um caminhão, pelo anel externo de Interlagos (autódromo José Carlos Pace). Foi em agosto de 1986, cobrindo a distância de 3,5 km. Este também está no Guiness.

Por ocasião do recorde da rodovia dos Bandeirantes, eu estava na Assessoria de Imprensa da GM e cobri o feito do Cunha, muito celebrado pelo pessoal de Marketing da fábrica, já que a única mudança feita no carro foi a colocação de pneus especiais, compactos, que suportaram o trajeto. Todo o resto do Chevette era original, incluindo suspensão e direção normal, sem ser hidráulica.

No dia seguinte ao escrever o texto e enviar para a Casa da Notícia, agência que o Nereu Leme (olha ele ai de novo), que saíra da Folha de são Paulo, pedindo que ao imprimi-lo, o fizesse inclinado, para distribuir à Imprensa nacional. Nereu estranhou, mas a ideia foi colocada em prática. E, modéstia à parte, deu ótimo retorno, havendo alguns órgãos de imprensa que publicaram como o receberam, inclinado.

Determinação

Ele saiu de casa aos 14 anos, determinado a ter sua própria vida e foi trabalhar em um circo, andando em pernas de pau. Depois do circo, veio o trabalho de manobrista e então, nunca mais deixou o volante.

Começou a “carreira sobre duas rodas”, em um Dodge Polara 1.800, ao lado de Oswaldo Steves, pela Kaiser Motors, em 1973.

Em 1975 ele sai da Kaiser Motors e, junto com Euclides Pinheiro, cria a equipe na Chevrolet, iniciando suas apresentações com um Opala, mas logo passando para o Chevette. Com seu show, Cunha percorreu o Brasil inteiro, realizando 3.000 shows, que somaram mais de 25.000 km (isso mesmo, mais de 25 mil km em duas rodas).

Carlos diz que nunca criou nada de improviso. Tudo, segundo ele, ela treinado para que não houvesse erros que pudessem, não apenas comprometer o espetáculo, mas, principalmente, a segurança da equipe e do público que comparecia em massa aos shows em várias parte do Brasil, inclusive em vias públicas, devidamente sinalizadas.

Os recordes mundiais

1º Record no Guiness Book (dezembro/1985)
Percurso em duas rodas com o Chevette
Data: dezembro de 1985
Local: Rodovia dos Bandeirantes, Jundiaí, São Paulo
Distância Percorrida: 33 km de distância
Tempo: 30 minutos
Velocidade Média: 60 km/h

2º Record no Guiness Book (dezembro/1985)
Recorde de salto com o carro Chevrolet Monza
Data: dezembro de 1985
Distância do Salto: 31 metros e 40 centímetros

3º Record no Guiness Book (agosto/1986)
Duas rodas com o Caminhão Chevrolet D11.000
Data: agosto de 1986
Local: Autódromo José Carlos Pace
Distância Percorrida: 3,5 km
Condições: Circuito no anel externo do autódromo.

4º Record no Guiness Book (agosto/1986)
Chevette em duas rodas
Velocidade em duas rodas: 137 km/h
Curiosidade: Esse Recorde foi alcançada um dia depois do Record em duas rodas do caminhão D11.000

5º Record no Guiness Book (12 de junho/1987)
Recuperando o Record do sueco. Kenneth Ericsson
Data: 12 de junho de 1987
Relatos também de: 218 Km e 200m de distância
Veículo utilizado: Chevette em duas rodas
Observação: O pneu começou a descascar no final do percurso.
62 voltas no anel externo de interlagos

6º Record no Guiness Book (abril/1989)
Recuperando o Record do sueco.
Data: abril de 1989
Lançamento do Kadett GS
Velocidade em Duas Rodas: 155 km/h
Curiosidade: Um repórter que gravava a cena acabou colidindo com o carro do piloto um dia antes do recorde, levando à substituição do veículo por outro Kadett, que era o mesmo modelo utilizado por Cunha.

Uma queda interrompe a carreira

Em 1993 sofre uma queda e bate a cabeça, após passar mal e é levado ao hospital, onde permanece por 15 dias, com fratura na base do crâneo, perdendo labirinto lado direito, perdeu audição e ficou apenas com um barulho (zumbido) que não teria cura. Os médicos já tinham avisado Cunha que não conseguiria se recuperar e estavam sem opções do que fazer.

Nesse momento Cunha sentiu que não voltaria mais. Porem com muita força de vontade, Cunha buscou na fé sua solução e fez um contrato com Deus. Se ele saísse do hospital e conseguisse voltar a fazer seus shows e ter uma vida normal, ele iria ser testemunho de um milagre em todos os lugares que fosse e iria relatar sobre o acontecido, que só voltou a andar por conta de Deus.

“E Deus cumpriu sua parte do contrato, contrariando todos os médicos” afirma Carlos que saiu andando do hospital e não de cadeira de rodas.

Recuperação

Após sair do Hospital, Cunha decidiu se recuperar de uma maneira diferente, foi para Ubatuba e começou a andar de moto aquática, esporte que praticava antes do acidente, forçando sua coordenação motora e resistência.

Após 60 dias, Cunha conseguiu ficar de pé e não só na moto aquática, “mas sim na vida”, diz ele. Após conseguir levantar, Cunha foi aos e os médicos mal acreditaram o que havia acontecido.

Após exames, Carlos Cunha voltou a treinar suas manobras radicais. Porem continuou sem sua audição no lado direito e com seu labirinto danificado

01/05/1994 – Volta de Carlos Cunha aos shows

Corridas

– Carlos Cunha foi campeão da Stock Car light 1998 Stock Car Light

Concessionária

Ainda no hospital, Cunha assinou o contrato da concessionária Chevrolet em Sumaré, iniciando novo trajeto na vida

Outro susto

No dia 28 de julho, de 2007, um infarto chegou na madrugada, confirmado às 15 horas e exigindo um cateterismo.

Mesmo após infarto, Cunha continuou seus shows mesmo com o “stent” no coração. E segue a vida, com o prêmio Medalha do Cavaleiro de São Paulo, da Academia Brasileira de Arte Cultura e História.

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